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Referencial Teórico

Teoria sócio histórica de Vygotsky

Gaspar (2014) relata que Lev Semyonovitch Vygotsky nasceu em 5 de novembro de 1896, na cidade de Orcha, na Bielorrússia e morreu em 11 de junho de 1934 em Moscou Rússia. De origem judaica, ingressou no curso de medicina da Universidade de Moscou, em 1913, através de um sistema de cotas destinada aos judeus. Um mês depois, transferiu-se para o curso de direito, que também acolhia judeus. No ano seguinte começou a estudar conjuntamente história e filosofia na Universidade de Shana-vsky.

A Obra deixada por Vygotsky é vasta e somente foi divulgada no ocidente a partir de 1962, com a publicação da primeira tradução em inglês da sua última obra, Pensamento e Linguagem, que havia sido editada e resumida.

Como já foi dito, o referencial teórico deste trabalho está centrado na teoria sociointeracionista de Vygotsky (1996, 2000; 2001; 2008). Ao se tratar de uma pesquisa que envolva sujeitos que possuem uma natureza cultural, o Materialismo Histórico e Dialético apresenta-se como uma ferramenta metodológica que permite conhecer os fenômenos que ocorrem em sua essência. Vários autores se fundamentam nesse método e dentre eles Vygotsky. Ele considerou que a abordagem do sujeito no processo de pesquisa ocorria através de um processo de interação, assim como para Marx (2001) em que o homem ao interagir com a natureza a transforma e esta, por sua vez, também transforma o homem. O homem só existe na relação prática com a natureza. Na medida em que está – e não pode deixar de estar – nessa relação ativa, produtiva, com ela, a natureza se oferece como objeto ou matéria de sua atividade, ou como resultado desta, isto é, como natureza humanizada (VASQUEZ, 1977).

A perspectiva sócio histórica baseia-se na tentativa de superar os reducionismos das concepções empiristas e idealistas. Isso fica evidente no que Vygotsky assinala como a “crise da psicologia” de seu tempo, que se debate entre modelos que privilegiam ora a mente e os aspectos internos do indivíduo, ora o comportamento externo. Em sua crítica aos modelos psicológicos objetivistas e subjetivistas apresentou mais do que uma terceira via, um caminho que constituía uma verdadeira ruptura, mostrando a necessidade de um paradigma unificador que restabelecesse a integração ausente.

Assim, o que é valorizado na relação do sujeito com o objeto de investigação são as relações influenciadas por fatores subjetivos que marcam a construção de significados que emergem no campo. São produzidas análises indutivas, qualitativas, centradas sobre a diferença. Nessa perspectiva os valores do pesquisador influenciam na seleção do problema, da teoria e dos métodos de análise. O pesquisador torna-se um produtor da realidade pesquisada pela sua capacidade de interpretação entendida como uma criação subjetiva dos participantes envolvidos nos eventos do campo.

O mérito das ideias de Vygotsky na formação da base do construtivismo sócio histórico está na valorização do elemento sociocultural sobre o biológico-natural (fisiológico), pois para ele, as fontes de desenvolvimento psicológico não estão no indivíduo, mas na comunicação, relações sociais que se estabelecem entre as pessoas. Assim, o desenvolvimento é determinado pela evolução cultural da sociedade ao longo de sua trajetória, centrada na composição dialética na história pessoal e na história da humanidade.

Os estudos da teoria sócio histórica ou sociointeracionista de Vygotsky, tiveram como foco principal o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, ou processos mentais superiores, o qual envolve o controle consciente do comportamento, ação intencional, capacidade de planejamento, imaginação, pensamento abstrato, e a liberdade da pessoa humana com relação ao momento histórico, social e político (Oliveira,1995).

Essas funções, ao contrário das funções elementares (ações reflexas presente em crianças), não são inatas, de origem biológica. Elas são construídas nas relações do indivíduo em seu contexto sócio histórico.

Vygotsky considera que a relação do homem com o mundo se dá através de mediação e não de maneira direta. “Mediação, em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento” (Oliveira, 2011, p. 28). Há dois elementos mediadores, que foram chamados por Vygotsky de instrumentos e signos.

“O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza” (OLIVEIRA, 2011, P. 31). Enquanto os signos, também chamado de instrumento psicológico de Vygotsky, são elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos, situações. (0LIVEIRA, 2011).

Durante o desenvolvimento do ser humano ocorrem mudanças qualitativas fundamentais no uso dos signos, marcas externas provocam processos internos de mediação, chamados por Vygotsky de processos de internalização, também são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas articuladas (OLIVEIRA, 2011).

A intervenção na aprendizagem é defendida por Vygotsky e dá suporte ao ensino escolar, principalmente na abordagem da ZDI (zona de desenvolvimento imediato), onde a interferência de outros indivíduos é mais transformadora. Durante o processo de ensino-aprendizagem, a escola deve tomar como ponto de partida o desenvolvimento real do educando, quando for abordar novos conteúdos, os quais sejam adequados a faixa etária e ao nível de conhecimento e habilidades de cada grupo de estudantes. Por isso que “o professor tem o papel explicito de interferir na zona de desenvolvimento imediato dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente” (OLIVEIRA,2011, p. 64).

As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da aprendizagem e a construção do conhecimento perpassavam pela produção da cultura, como resultado das relações humanas. Por conta disso, ele procurou entender o desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico-sociais, ou seja, buscou demonstrar que o conhecimento é socialmente construído pelas e nas relações humanas.

Para Vygotsky (1991), o homem possui natureza social visto que nasce em um ambiente carregado de valores culturais: na ausência do outro, o homem não se faz homem. Partindo desse pressuposto criou uma teoria de desenvolvimento da inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre intermediado.

Sendo a convivência social fundamental para transformar o homem de ser biológico a ser humano social, e a aprendizagem que brota nas relações sociais ajuda a construir os conhecimentos que darão suporte ao desenvolvimento mental. Segundo o autor, a criança nasce apenas com funções psicológicas elementares e, a partir do aprendizado da cultura, essas funções transformam-se em funções psicológicas superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de forma imediata e direta; as informações recebidas do meio social são intermediadas, de forma explícita ou não, pelas pessoas que interagem com as crianças. É essa intermediação que dá às informações um caráter valorativo e significados sociais e históricos.

As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano fundamentam-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo, mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o distinguem de outros animais (OLIVEIRA, 2011).

Vale dizer que essas informações não são interiorizadas com o mesmo teor com que são recebidas, ou seja, elas sofrem uma reelaboração interna, uma linguagem específica em cada pessoa. Em outras palavras, cada processo de construção de conhecimentos e desenvolvimento mental possui características individuais e particulares. Dito de outra forma, os significados socioculturais historicamente produzidos são internalizados pelo homem de forma individual e, por isso, ganham um sentido pessoal; "a palavra, a língua, a cultura relaciona-se com a realidade, com a própria vida e com os motivos de cada indivíduo" (LANE, 1997, p. 34).

Na perspectiva vygotskiana, segundo Oliveira (2010), os aspectos afetivos (a motivação) e intelectual (o aprendizado) não devem ser dissociados na compreensão dos processos psicológicos tipicamente humanos. Além disso, tais aspectos não estão imunes um ao outro: da mesma forma que o desenvolvimento do pensamento conceitual é fortemente influenciado pelos desejos e emoções, estes também são influenciados pelos conceitos internalizados ao longo da história individual e coletiva (OLIVEIRA, 2010). Consequentemente a motivação nas aulas experimentais é sim um fator que favorece a aprendizagem. A utilização de equipamentos, a quantificação de grandezas, o resultado de transformações, como no caso da energia térmica (calor) em trabalho mecânico, desperta a curiosidade, a dúvida, o porquê do fenômeno estudado.

O trabalho experimental suscita o desenvolvimento de habilidades manipulativas, raciocínio lógico, hipótese, e confirmação ou não de predições, técnicas para uso de materiais de laboratório e rotinas de pesquisas quantitativas.

Uma das vertentes da teoria de Vygotsky a mediação, mencionada anteriormente, entre o homem e o mundo são os instrumentos (equipamentos) de medição por exemplo, é por meio destes que o homem age sobre a natureza para compreendê-la (dominá-la), são construídos com objetivos específicos e difundido aos demais membros da sociedade através das escolas.

Está ação não configura uma mera operação mecânica, pois tais instrumentos trazem consigo significados e conceitos. Neste sentido, os instrumentos e seus métodos de utilização estão vinculados ao pensamento e conceitua o que configura uma importante contribuição para o aprendizado ligado as atividades experimentais.

Outro elemento mediador citado por Vygotsky, e de fundamental importância nas aulas de física, é o signo ou instrumento psicológico, o qual tem na linguagem seu principal representante. Por meio da linguagem é possível pensar em objetos ausentes, fazer associações, generalizar e memorizar.

Ao se pesquisar leva-se em consideração a passagem da influência social e exterior do sujeito para a influência social interior ao sujeito bem como a dinâmica em que ocorre esta passagem. O sujeito deve ser considerado em suas interações com outros sujeitos e o meio na qual convive bem como possibilidades, em outras palavras, o sujeito deve ser considerado em seu processo histórico e cultural. O pensamento, para se transformar em palavra, envolve um processo complexo e dinâmico em que no final nunca corresponde diretamente ao pensamento que a gerou. É pela mediação que o indivíduo se relaciona com o ambiente, pois, enquanto sujeito do conhecimento, ele não tem acesso direto aos objetos, mas, apenas, a sistemas simbólicos que representam a realidade. É por meio dos signos, da palavra, dos instrumentos, que ocorre o contato com a cultura.

Momentos Pedagógicos

Optamos pelo trabalho com problemas de base conceitual e com situações-problema contextualizadas e atuais evitando-se, porém, estratégias de natureza puramente prescritivas.  Para guiar o desenvolvimento dessas tarefas, pretendemos usar também, a abordagem dos três momentos pedagógicos proposta por Delizoicov e Angotti (1992) por julgar-se que tal proposta possa ser adequada à realidade do Ensino de Ciências de modo a reverter o distanciamento dos fenômenos físicos e das situações cotidianas próximas aos alunos.

Essa proposta, como seu próprio nome já diz, é dividida em três momentos pedagógicos: problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento.

Na problematização devem ser apresentadas situações para a discussão com os alunos. Sua função, mais do que uma simples motivação para introduzir o conteúdo, é fazer a ligação desse conteúdo com situações reais, que os alunos conhecem e presenciam, e para as quais provavelmente não dispõem de conhecimento suficiente para interpretá-las corretamente do ponto de vista científico.

A problematização é importante, pois permite que os alunos sintam necessidade de adquirir outros conhecimentos e fazer a ligação desses conteúdos com situações reais que eles conhecem e presenciam, embora também exijam, para interpretá-las, a introdução de conhecimentos contidos nas teorias científicas. Nesse momento, a principal atuação do professor é como questionador, procurando sempre vincular as questões formuladas ao conteúdo a ser estudado.

No segundo momento, os conhecimentos selecionados como necessários para a compreensão dos temas e da problematização inicial foram sistematicamente estudados sob a orientação do professor para que o aluno perceba outras visões e explicações para as situações problematizadas e também que ele compare esse conhecimento com o seu para usá-lo nas interpretações dos fenômenos.

O terceiro momento destina-se a abordar sistematicamente o conteúdo trabalhado para que o aluno perceba suas implicações práticas e possa vincular e perceber a utilidade do conhecimento a ser construído. Além disso, é desejável também aplicá-lo em outras situações que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, mas que são explicadas pelo mesmo conhecimento e, dessa maneira, explorar o potencial explicativo e conscientizador das teorias científicas.

Estratégia Maker

O movimento maker, vem chamando a atenção de pesquisadores, pois constitui-se de uma prática pedagógica baseada na construção e criação, ou seja, uma extensão da cultura Faça-Você-Mesmo. Este crescente número de educadores e pesquisadores tem se interessado pelo potencial de tais práticas para engajar estudantes em novas formas de aprender fazendo (RESNIC e ROSENBAUM, 2013). Portanto, este movimento, associado com a proposição deste trabalho, pode possibilitar ao futuro professor a estimulação para projetar e produzir, sob orientação, seu próprio equipamento, para que posteriormente introduza essa cultura maker em sua prática pedagógica, estimulando seus alunos a planejar e produzir equipamento com a finalidade de resolver um problema proposto através da experimentação.

Além do desenvolvimento das habilidades motoras, pesquisas (Samagaia e Neto, 2015; Anderson, 2012) apontam que aumenta a aprendizagem de conceitos relacionados, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades variadas, como resolução de problemas, raciocínio lógico e comunicação. Mas sabe-se que muitos fatores podem influenciar no ganho de aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades.

Assim, é necessária uma compreensão mais aprofundada do potencial que este tipo de atividade pode ter no desenvolvimento do interesse, habilidades cognitivas e relações sociais dos estudantes. Portanto, um número maior de pesquisas neste sentido deve ser desenvolvido para que se tenha uma teoria desenhada com grandes detalhes a respeito da relação dos educando com estas atividades, oferecendo uma maior compreensão que este tipo de tema pode ter na educação.

   

Capela de Nossa Senhora de Fátima - Portugal