O processo
ensino-aprendizagem da Física tem sido
objeto de discussões e críticas,
merecendo reflexões por parte dos
pesquisadores (Carvalho, 2010; Sasseron,
2010; Carvalho, 2012; Carvalho, 2013)
que centram seus estudos nas
dificuldades e problemas relacionados ao
ensino desta ciência nos diferentes
níveis de escolaridade. Para Rosa (2003)
a ação pedagógica desenvolvida pelos
professores no processo
ensino-aprendizagem da Física tem se
caracterizado, muitas vezes, por
atividades voltadas para apresentação de
conceitos, leis e fórmulas de modo
desarticulado e distanciado da realidade
do educando.
Frequentemente a
Física é reduzida a uma aula teórica,
matematizada fora da realidade vivida
pelo educando no seu dia-a-dia (Chaves,
2009; Goldemberg, 2009), o que na
verdade é um contrassenso, pois vivemos
e interagirmos no mundo físico regido
por leis extraídas da tentativa de
explicar os fenômenos naturais nos quais
estamos em contato cotidianamente.
Nesta concepção de
modelo tradicional de sala de aula, os
alunos estão decorando algumas fórmulas
e resolver alguns exercícios passados
pelo professor, mas o conceito físico
não é trabalhado, “compreendido”. Isto
pode levar ao aluno a não gostar da
disciplina que passa a ser algo difícil,
pois não tem significado para sua vida.
A falta de interesse dos alunos leva a
questão a ser analisada de uma forma
mais ampla. Talvez seja as condições de
ensino, ligadas a fatores econômicos e
estruturais, como a carência de
materiais de laboratório e horas de
preparação, tornaram o ensino da
disciplina predominantemente teórico,
com aulas restritamente ligadas a
memorização e aplicações de fórmulas.
Para autores como
Borges (2002), Giani (2010) e
Jardim e Guerra
(2017), a inserção de atividades
práticas no currículo da disciplina de
Física, no Ensino Médio, constitui uma
boa estratégia.
Segundo Galiazzi et
al. (2001) a experimentação é
considerada como uma atividade viável e
possível de ser utilizada no ensino de
Ciências, mas não é considerada a única.
Porém, presencia-se a experimentação
como sendo crucial para a construção da
aprendizagem. Carvalho (2010) mostra que
as atividades experimentais são
fundamentais para levarem os alunos a
superarem as concepções
empírico-indutivistas da Ciência,
promovendo a argumentação dos alunos, a
incorporação de ferramentas matemáticas
e a transposição do conhecimento para a
vida social.
Os Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 2007)
enfatizam o uso dos experimentos em sala
de aula, visando uma melhor compreensão
dos conceitos por parte do aluno,
proporcionando também o desenvolvimento
de outras habilidades, tais como
questionar, investigar, refletir,
interagir, entre outras.
De igual forma,
essa realidade evidencia-se em nosso
cotidiano, pois atuamos também como
docentes de cursos de formação inicial e
continuada de Ciências e de Física.
Percebemos, nos professores em
exercício, a falta de um conhecimento
sólido em ciências, uma forte influência
das chamadas concepções alternativas e
pouca motivação em estudar e aplicar as
contribuições apresentadas pela didática
da Ciência. Os cursos de formação
inicial, de acordo com Cachapuz et al.
(2011), mostram uma insuficiência devido
à separação entre os conteúdos
científicos e os pedagógicos, indicando
a necessidade de um tratamento global e
integrado dos problemas que se colocam
no processo de ensino-aprendizagem de
ciências.
Pesquisas atuais
(Rocha e Guadagnini, 2014, Rosa et al.,
2016; Baldo et al., 2016; Lima e
Ferreira, 2015; Moura et al. 2019)
sinalizaram também a necessidade de
investirmos em estudos sobre as
possibilidades e contribuições as
atividades didáticas mediadas por
computador podem acrescentar no
processo de ensino e aprendizagem da
Física.
Com base nessas
constatações, e alicerçado nos estudos
acima referidos, consideramos que a
aproximação com lentes mais
investigativas do cotidiano dos futuros
professores representa uma oportunidade
para repensar a formação docente que se
realiza, principalmente neste momento no
qual os processos de formação inicial de
professores e os programas de formação
continuada vêm sendo questionados a
partir da relação entre formação e
melhores rendimentos do sistema escolar.
Ensinar Física é um
desafio constante para o professor,
frente ao frenético avanço da
tecnologia, ao mesmo tempo é a
oportunidade de oferecer novos métodos
de aprendizagem. Este fato coloca o
professor como agente imprescindível no
cenário de uma escola que tem de se
adequar à realidade que é o avanço da
tecnologia na educação. O docente como
figura central do processo deve estar à
frente do mesmo, visto que ao
desenvolver a tecnologia necessária não
só para o momento atual, mas para o
futuro que se impõe em um cenário de
rápidas e radicais mudanças numa
conjuntura muito ampla envolvendo
economia, política e as relações
sociais. As tecnologias transformam a
maneira de pensar, sentir e agir do
homem, além de mudar as formas de
comunicação e aquisição de conhecimentos
(KENSKI, 2006).
Na revisão parcial
da literatura encontramos vários estudos
sobre as dificuldades dos professores do
Ensino Fundamental e do Ensino Médio em
utilizar as práticas experimentais. Este
trabalho busca dar uma pequena, mas
significativa, contribuição
diversificando a maneira de ensinar,
aprender e principalmente aplicar
conceitos básicos de Física Térmica a
situações práticas no cotidiano da sala
de aula, promovendo o aluno a agente
produtor do seu próprio conhecimento,
amparado no papel central que o
professor desempenha visto que esse é o
parceiro mais capaz, por toda sua
trajetória docente de capacitação e
aperfeiçoamento constante.
Este trabalho,
pretende construir com os futuros
professores uma proposta de ensino
experimental visando sua futura
aplicação em escolas que, na maioria das
vezes, não possuem equipamentos e nem
salas especificas para laboratório. Para
tal será concebido um material
experimental que será utilizado em sala
de aula. Para alguns experimentos,
utilizaremos a coleta automática de
dados com a placa Arduíno. Toda a
proposta está ancorada na teoria
socio-interacionista de Vygotsky, nos
três Momentos Pedagógicos propostos por
Delizoicov e Angotti (1992) e na
Estratégia Maker proposto por Resnic e
Rosenbaum, (2013).
Partimos da
premissa vygotskyana que a construção do
conhecimento ocorre devido à interação
social entre os participantes do
processo educativo. A atividade
experimental potencializa esta interação
de signos, assim, as mesmas irão buscar
instigar o aluno, futuro professor, a se
envolver cognitivamente com o objeto de
aprendizagem, permitido espaço para
reflexão e debate com os colegas, ou
seja, evitando atividades dirigidas por
roteiros fechados.
É sempre importante
salientar que além de um requisito
legal, as aulas práticas desenvolvidas
para o ensino de Física,
independentemente no nível, são de
fundamental importância para a
compreensão dos fenômenos estudados e
sua aplicação, bem como fonte de
motivação para o educando desenvolver
seu interesse pelas ciências em geral e
sua inserção na vida profissional e
social.
Como professor de
diversos cursos de extensão e respaldado
nas pesquisas (Borges, 2002; Giani 2010;
Gil-Pérez et al., 2011; Carvalho, 2011;
Jardim e Guerra 2017; Sasseron, 2018)
concordamos que as atividades
experimentais são muito pouco utilizadas
na Educação Básica, apesar de sua
importância ser praticamente uma
unanimidade entre os pesquisadores e
professores. As pesquisas (Marques,
2009; Krause e Santos, 2012; Louzada e
Elia, 2015) também mostram que os alunos
apresentam fortes concepções
alternativas em Física, principalmente
em Física Térmica. Desta forma,
entendemos que as atividades
experimentais têm potencialidade para
abordar estas concepções alternativas e
desenvolver o interesse dos estudantes,
além da possibilidade de uma compreensão
mais ampla dos conceitos abordados e
suas aplicações no cotidiano dos alunos
.
Tendo em mente os
possíveis reflexos positivos que uma
melhor compreensão da importância de
ensinar Física através de práticas
experimentais, possa trazer aos futuros
professores, e na possível falta
de ênfase no trabalho experimental com
materiais de baixo custo e dificuldades
conceituais que não tenham sido
superadas por eles em sua formação
tradicional, este trabalho pretende
contribuir para a investigação desse
tema buscando atender aos seguintes
objetivos do trabalho:
i.
Apresentar
aos estudantes das Licenciaturas em
Física, Química e Ciências Biológicas a
importância das aulas experimentais no
Ensino de Ciências e como elas podem
motivar a aplicação das mesmas,
construindo um conhecimento prático,
voltado ao melhor entendimento dos
fenômenos naturais e suas aplicações
tecnológicas, enfatizando o conhecimento
cientifico dirimido as concepções
alternativas dos alunos;
ii.
Incentivar o
trabalho em grupo e a discussão
referente a preparação de aulas
experimentais com materiais
alternativos;
iii. Elaborar e
aplicar uma proposta experimental para o
ensino de Física Térmica;
iv.
Construir,
na forma de
um sítio específico para este fim.
www.meulaboratorio.marco.pro.br.,
um acervo multimídia de apoio aos
professores de Física e/ou ciências.
Nesse sítio será divulgada a proposta
elaborada, aplicada e revisada após
análise dos dados obtidos.